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CAPÍTUL O 0 5 – USO E TR A T AMENT O DE D ADOS DE A CIDENTE S
dificulta a identificação das causas dessas mudanças observadas: se elas ocorreram
em função de mudanças nas condições locais ou se são flutuações naturais.
Ao se desconsiderar as flutuações naturais na frequência de acidentes, pode-se co-
meter o equívoco de não considerar o viés (a tendência) da regressão para a média (RPM)
e, assim, incorrer em erros no processo de seleção de locais críticos com potencial de
melhoria. Isso torna a escolha do período de análise extremamente importante [5].
BOX 3 REGRESSÃO PARA A MÉDIA (RPM)
i Quando um período de alta frequência de acidentes é observado, é provável
que uma frequência menor de acidentes seja observada no período seguinte.
Essa tendência é conhecida como o fenômeno estatístico da regressão para a
média (RPM). A RPM descreve, portanto, situações com índices de acidentes
aleatoriamente altos durante um período, que são reduzidos sem nenhuma
melhoria no local no período seguinte, ou em casos de índices de acidentes
baixos que sofrem um aumento sem qualquer alteração no local ou nas con-
dições de tráfego [5].
Ao se realizar a seleção de locais críticos, frequentemente são seleciona-
dos locais com o pior cenário recente de acidentes. Assim, o viés da RPM não
é levado em consideração, podendo gerar uma seleção equivocada de locais
de risco e de contramedidas [5], [8].
Tomando os dados de acidentes da Figura 5.2, por exemplo, ao considerar
apenas o pico indicado em “1” para a seleção de locais críticos, este local seria
identificado como um ponto com alta frequência de acidentes e, portanto,
com potencial de tratamento para melhoria de segurança. Contudo, uma di-
minuição na frequência de acidentes no período seguinte, como indicado em
“2”, pode ocorrer sem que uma contramedida específica tenha sido imple-
mentada, ou ainda, sem que a implantação de uma contramedida tenha, de
fato, apresentado algum efeito.
Nesse caso, como a frequência média de acidentes esperada a longo prazo
está abaixo do pico observado antes da intervenção, a efetividade calculada
para o tratamento implementado poderia ser superestimada. Assim, há um
risco na validação dos resultados alcançados a partir de uma simples com-
paração das condições de curto prazo antes e depois da melhoria ter sido
implementada. Além disso, a intervenção poderia ter apresentado um melhor
benefício-custo se aplicada em um local alternativo.
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MANU AL DE SE GUR ANÇA VIÁRIA
DER / SP