Nesta quinta-feira (14), o 1º Encontro de Engenheiros para o Desenvolvimento da Infraestrutura do Estado de São Paulo, realizado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), abordou, no período da manhã, temas ligados aos modais ferroviário e hidroviário, debateu o uso de insumos mais sustentáveis para pavimentação de rodovias e ainda analisou a metodologia que utiliza técnicas de machine learning para avaliar a gravidade de acidentes na Rodovia Dutra.Foram registrados 225 inscritos para participar do evento.
O evento teve início na quarta-feira (13), na sede do DER, em São Paulo, com a presença de engenheiros especializados em infraestruturas de transporte, atuantes em universidades, centros de pesquisa, empresas privadas e gestores públicos, que abordaram iniciativas com potencial para tornar o sistema de transporte paulista mais eficiente, seguro e sustentável.
Infraestrutura hidroviária
Em sua participação, o engenheiro civil e mecânico André Teixeira Hernandes, analista do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), tratou de possíveis aplicações do transporte hidroviário no sistema de transportes do estado de São Paulo e do Brasil.
Intitulada "Hidrovia Tietê-Paraná: Um Patrimônio Logístico/Histórico da Engenharia Brasileira", a palestra de Hernandes foi muito além dos rios paulistas.Apresentou casos internacionais para comparação e fonte de possíveis soluções locais, como a Hidrovia Scheldt-Mose, na Bélgica.
Após um histórico sobre o transporte hidroviário no país, o palestrante chamou a atenção para o uso restrito dos rios pela sociedade brasileira, relegando as hidrovias ao segundo plano."Ainda estamos muito aquém do que vem sendo feito na Europa e América do Norte.Precisamos colocar o pé no acelerador para recuperar o tempo perdido, em termos de engenharia, para responder desafios impostos pelas políticas públicas para atender às necessidades das pessoas", disse Hernandes.
Pavimentos rodoviários
Com o tema "Avaliação da Resistência à Fadiga de Misturas Asfálticas Reforçadas com Geogrelha", o engenheiro civil Cássio do Carmo, gerente de Mercado Pavimento e Aplicações da Huesker Brasil, apresentou estudos dos materiais utilizados em obras de restauração de pavimentos.
Para o especialista, o dano por fadiga está entre as principais falhas que ocorrem em pavimentos, decorrentes da carga repetida do tráfego, resultando em tensões de tração e falhas no concreto asfáltico."Para determinar o modelo matemático de misturas asfálticas e conhecer o desempenho de cada material, testamos várias configurações para ter uma repetibilidade desses parâmetros, que são variados e não podem ser generalizados", explicou.
A terceira palestra desta quinta-feira teve como foco a preocupação ambiental aplicada à pavimentação. Na exposição "Asfalto Reciclado com Plástico: Inovação Tecnológica Pioneira e Sustentável no Brasil", o engenheiro de pavimentos da Eixo SP Assis Vilela apresentou os detalhes do projeto experimental de asfaltamento com uso de 1,5% de plástico, em um trecho de 820 metros da SP 310, em São Carlos.
O método inovador, inspirado em experiências na Índia, Reino Unido, Estados Unidos e Holanda, utiliza plástico proveniente de embalagens domésticas para formação do chamado ligante asfáltico."Este uso do plástico envolve questões de sustentabilidade, economia circular e logística reversa. A técnica é capaz de gerar redução de gases de efeito estufa, economia de petróleo, conservação de energia elétrica e preservação de água", salientou o engenheiro, prometendo novos resultados no próximo Encontro de Engenheiros do DER, em 2025.
Segurança Viária
O engenheiro civil Celso Zanchetta, doutorando da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), apresentou uma análise da gravidade de acidentes na Rodovia Dutra por meio de técnicas de machine learning, como são chamados algoritmos que usam dados para identificar padrões e realizar tarefas específicas.
Zanchetta mostrou a evolução de pesquisas internacionais de prevenção de acidentes de trânsito, em países como Estados Unidos, China e Reino Unidos, a partir de informações sobre o comportamento de motoristas, que utiliza a metodologia."Meu objetivo maior é conseguir fazer um programa de segurança viária do município de São Paulo, mas com uma visão também do Estado de São Paulo", disse o engenheiro.
Para Zanchetta, a análise com machine learning aponta para o futuro da análise da segurança viária."Já temos alguns estudos feitos no mundo, e também é uma provocação [que faço] para termos os dados abertos, permitindo que mais pesquisadores e mais cientistas tenham acesso", disse o pesquisador.
Emissões de CO2
Engenheira civil e assessora técnica que atua na Diretoria de Operações da Artesp, Alice Amorim Teles tratou de sustentabilidade aplicada à pavimentação.A engenheira apresentou a análise comparativa de duas possíveis soluções de conservação especial de pavimento: o recapeamento asfáltico e a whitetopping, como é conhecida a sobreposição de concreto de cimento Portland (PCC).
Para tanto, a especialista usou o consumo energético e a emissão de CO² como indicadores sustentáveis, além de examinar os preços de venda."No contexto brasileiro, esse tipo de avaliação ainda não é uma prática consolidada, a maior dificuldade atualmente é o desconhecimento.Não faz parte da nossa cultura essa espécie de análise, mas a ideia é mostrar que, com os dados que a gente já possui nos orçamentos, como do Sistema de Custos Referenciais de Obras [SICRO], é possível fazer essa consideração", afirmou.
A profissional da Artesp abordou ainda a relevância da pesquisa, dada a participação do transporte nas emissões de gases de efeito estufa, com impacto significativo nas mudanças climáticas."Justamente por isso, muitos fundos de investimento já passam a exigir o atendimento a critérios de sustentabilidade.No Brasil, comprovar sustentabilidade do empreendimento pode permitir crédito mais barato, e a tendência é que isso se torne uma obrigatoriedade", afirmou.
Custos rodoviários
O engenheiro civil Pedro Rego, mestrando em Transportes e mestre em Infraestrutura Ferroviária, da FGV/IBRE, parceira do DER-SP no desenvolvimento de uma nova metodologia para estimativa de custos, extraiu parte de sua exposição da consultoria prestada ao DER, salientando a importância de um sistema robusto, confiável e, acima de tudo, auditável.
A nova metodologia irá auxiliar na otimização dos recursos orçamentários."À medida que a ciência vai evoluindo, que novas técnicas são desenvolvidas, novos artigos são produzidos, podemos rever a nossa metodologia e incrementar com novos métodos", disse o engenheiro.
Aeroportos
Na sequência, a professora Giovanna Ronzani, chefe de Engenharia Civil do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo (SBTA), apresentou o tema "Modernização de Aeroportos e Mobilidade Aérea Urbana".
A especialista incluiu em sua participação os desafios de implantar novos aeroportos no estado de São Paulo."Sabemos o quanto é difícil escolher o sítio aeroportuário, e um dos critérios a ponderar é o acesso terrestre.Não adianta colocar o aeroporto lá longe, se a pessoa precisa chegar e sair do aeroporto por via terrestre, precisa ter algum transporte eficiente", explicou.
Pavimentação
Com a palestra "Base Estabilizada com Emulsão: Opção para Obras com Alto Desempenho", o engenheiro civil Cleto Carvalho, mestre em Engenharia Civil e Geotecnia e Pavimentos, apresentou alguns resultados e vantagens do material.Segundo ele, essa técnica traz muitos benefícios, tanto econômicos como de engenharia, ao proporcionar maior durabilidade e segurança aos usuários.
De acordo com Carvalho, trata-se de tecnologia recente, mas que começa a ganhar corpo no Brasil."Achei por bem apresentar esse método no evento porque o DER de São Paulo é um dos mais importantes do nosso país, pela dimensão que São Paulo tem, é um estado muito propulsor de tecnologia e de desenvolvimento.Então, essa tecnologia pode ser muito bem utilizada pelo DER como uma alternativa mais econômica, mais eficiente e mais durável", explicou o especialista.